14.11.11

irmã, compre um mapa

vê essa cidade, como corre
pro sumidouro
de suas pedras e águas e curvas?
parece a palavra que dizemos no vento,
sob a chuva,
a frase picada do cartaz mal lido.

é bem do rio esse capricho de esconder-se.

às vezes penso que o tenho nos braços,
entre as mãos, preso nos dedos,
mas não é minha nem de ninguém esta cidade.

o farol está lá pra que ela não fuja
na madrugada, em silêncio
tropeçando em si mesma
nas suas zonas
de gueto em gueto
no escuro em que vai se trancando a cadeado
codificada e sem chave –
até que vire um ruído no quarto ao lado
mas nunca palavra
palavra inteira
de dicionário
(dessas que eu digo).

te explicaria essa cidade se eu pudesse,
mas agora só sei falar de boatos
e a cartografia sai assim, capenga e insegura
feita à lápis
de turista cego
que ignora a língua.

te explicaria essa cidade se eu soubesse,
mas tudo que posso fazer é repeti-la
e esperar que do eco
ao infinito rebatido
tudo se agrupe de novo
de norte a sul
de leste a oeste
e assim ela possa nos fazer algum sentido.